26 de ago. de 2015

Onde passear


Fachada de prédios na Piazza di Maria, em Trastevere. E a luz de Roma


Você não precisa inventar muito para aproveitar Roma. Mas precisa ficar lá pelo menos uns quatro ou cinco dias, já vou avisando, porque tudo o que estiver em negrito daqui para baixo, incluindo os lugares mais manjados, requer uma visita obrigatória. Ou quase.

passeio às margens do Tevere
Andar a pé entre os principais pontos da cidade é o suficiente (e é essencial) para aproveitar o que a capital italiana tem de mais legal. Em Roma, quase não é preciso “entrar” nos lugares, não é preciso pagar ingressos, pegar filas ou fazer reservas. E a não ser que você queira ver vitrines ou fazer compras (um desejo legítimo, não tô julgando), é melhor evitar andar nas avenidas mais movimentadas tipo a Via del Corso, porque em geral elas ficam bem cheias e suas calçadas não são assim tão largas.

Em compensação, os passeios pelas pequenas ruas de paralelepípedos, entre as casas das nonnas, os motorinos estacionados em todos os cantos, os estúdios modernosos nos prédios caindo aos pedaços e o cheiro dos fornos fazem valer as caminhadas. Vá sem medo de se perder: dê uma olhada por cima no mapa, só checando mais ou menos qual a direção do próximo destino e saia andando. Você vai se perder? Vai. Mas os becos em que você vai cair compensarão os minutos "perdidos".

Pantheon, Piazza Navona, Campo dei Fiori, Piazza di Spagna, Fontana de Trevi, Largo di Torre Argentina, Palazzo Montecitorio (a Câmara dos deputados) e Palazzo Quirinale (a residência do Presidente). Comece caminhando entre estes pontos. São todos relativamente próximos um do outro: ande a pé entre eles, vá e volte, mude as rotas, depois de ir de um para o outro, vá do outro para o um, então para um terceiro, deste para um quarto... Varie os horários e, se conseguir, procure andar também de madrugada, com menos gente nas ruas. Fique tranquilo, é seguro. E bem agradável.


Piazza di Spagna: vazia assim, só de madrugada
Os cinco primeiros lugares citados aí em cima são obrigatórios mesmo. Os outros podem até não ser tanto, mas chegar ou sair deles sim: o barato muitas vezes está no caminho que te leva a cada um destes pontos, sobretudo se você optar pelas ruelas em detrimento das grandes avenidas.

Tão indispensável como os pontos mais manjados é o bairro de Trastevere, muitas vezes deixado de lado pelos turistas por não contar com uma grande atração como o Pantheon, o Coliseu ou o Vaticano (aliás, parênteses: quando você for ao Vaticano, prepare-se para as filas e programe-se consultando o site - sobretudo se quiser visitar a Capela Sistina, que tem horários e dias especiais para visitas). Mas voltemos à Trastevere, o pedaço de Roma onde os romanos se consideram mais romanos. É meu bairro preferido na cidade. Pela beleza, pelo ambiente, para se viver a cidade. Boêmio, agradavelmente agitado, cheio de bares e restaurantes, é para mim o melhor lugar para se hospedar e também para comer no centro. Mas, se você for aparecer por lá só para passear, chegue no fim da tarde, quando o sol estiver se pondo.

O bairro de Trastevere, imperdível
A principal praça do bairro, Piazza di Maria, é onde fica a basílica de Santa Maria in Trastevere (impressionante, apesar da fachada discreta); a praça tem alguns bares, sorveterias e uma pequena livraria bem bacana. Quando for chegar ou sair de Trastevere, passe ao menos uma vez (mas você vai querer passar mais) pela Ponte Sisto, uma ponte só de pedestres que conta com italianos indo ou saindo do trabalho, turistas embasbacados, músicos trabalhando ao ar livre e a aquela coloração sempre alaranjada de Roma reforçada pelo reflexo dos prédios às margens do Tevere. Imperdível.

Atrás de Trastevere, vários e cansativos degraus acima, fica o passeio do Gianicolo. O trajeto em si é muito agradável, mas a vista do Piazzale Anita Garibaldi e também uma visita à Fontana dell'Acqua Paolo (conhecida como Fontanone, aquela na qual começa o filme A Grande Beleza, do vídeo lá embaixo) são outros bons motivos para você encarar os degraus.

Também perto de Trastevere, mas ainda lá embaixo e no "caminho de volta" para o outro lado do rio está a Isola Tiberina, uma ilha no meio do rio Tevere onde rolam sessões de cinema a céu aberto no verão. Quem está em Trastevere, para chegar à ilha, pode andar pelas ruelas do bairro até pegar a Ponte Cestio (outra linda ponte só para pedestres). Se quiser, dê uma volta na ilhota, e depois saia pelo outro lado, na Ponte Fabricio, que vai desembocar no Ghetto de Roma, o bairro judeu da capital.

Isola Tiberina, em um dia de "natureza selvagem" em Roma


Longe de mim querer aqui ficar criando obrigações (eu avisei que não dá para ficar menos de cinco dias em Roma), mas o Ghetto também é obrigatório. A via Portico d'Otavvia, o Teatro Marcelo, a Piazza Mattei com sua Fonte das Tartarugas e as ruelas que os ligam são os pontos mais bacanas desse pedaço pequeno de Roma e merecem uma visita, mesmo que rápida.

via Portico d'Otavvia, no Ghetto
Ali do lado, grudados no Ghetto, ficam o Fórum Romano e o Coliseu. Sobre o principal símbolo da cidade: se você quiser entrar (e se nunca foi certamente vai querer), tente chegar no primeiro horário, uma ou meia hora antes da abertura dos portões (não sei bem o horário, mas você pode se informar aqui). Assim você evita uma fila monstruosa e ainda tem a sensação bacana de ver o Coliseu com pouca gente dentro.

E não é só esse o motivo para você acordar bem cedo em pelo menos um dia. O alvorecer, que costuma ser lindo até em cidades meia boca, é especial em Roma. Por isso vale levantar ainda no escuro, tomar um capuccino com corneto (o nome "romano" mais digno para croissant) e fazer o seguinte trajeto: vá ao Campidóglio (sede da prefeitura), que é onde tem "início" o trajeto do Fórum Romano. Depois de tirar umas fotos e apreciar o panorama geral, desça as escadas que dão no fórum e vá caminhando pelo meio dele, até chegar ao Coliseu. Caminhar pelo antigo fórum antes das hordas de turistas chegarem é uma experiência legal demais.

acesso ao Campidóglio
(Intervalo comercial. Se estiver ainda perto do Coliseu na hora de almoçar, há um ótimo restaurante por perto, o Luzzi, na via Celimontana 3. Outra opção por ali é comprar uns pães, queijos, prosciuto e vinho para fazer um piquenique em algum canto do Parco del Colle Oppio, ali grudado)

Sigamos. Talvez para a volta do Coliseu, ou para qualquer outro momento em que você passar pela gigantesca Piazza Venezia: praticamente grudado ao Campidoglio está o Palácio Vitoriano, um prédio absurdamente gigante. Muitos romanos não gostam da sua brutalidade e o apelidaram de “bolo de noiva”. Mas por mais que a gente possa até concordar, vale a pena subir lá no alto do bolo para ver a vista da cidade. Não custa nada e ainda tem banheiro nas exposições do prédio, se você precisar (não é uma dica desprezível em Roma, acredite).

Além do Coliseu, um outro passeio que justifica você desembolsar uma graninha com os ingressos é o Castel Santangelo (também conhecido como Mausoléu de Adriano), por ser bem preservado e também com uma bela vista da cidade (é mais uma atração que fica "do outro lado" do rio, perto do Vaticano).

Ponte Sisto. Ao fundo, o Vaticano
Como olhar para Roma do alto é sempre bacana, um outro passeio bonito e agradável é o seguinte: quando você subir a escadaria da Piazza di Spagna (onde vale a pena passar um tempo sentado observando as pessoas e tomando um sorvete ou uma cerveja, dependendo de espírito), vira a esquerda e caminhe apreciando a vista da cidade a partir da via Trinità dei Monti. Ande. Na hora em que bifurcar, não desça e siga à direita para cair então numa praça grande, logo acima da Piazza del Popolo — basta descer as escadas se você quiser chegar lá.  

Se você optar por não descer à Piazza del Popolo, caminhando para a direita está outra das grandes atrações de Roma: a Villa Borghese, que é o principal parque do centro da cidade e onde fica a disputadíssima Galeria Borghese (que tem um incrível acervo, esculturas realmente impressionantes, mas um fila tão incrível quanto; então, se você pretende ir, é legal reservar por aqui e marcar hora).

A propósito do parque, ele é bem grande e tem cantos muito gostosos para fazer um piquenique com os deliciosos prosciutos, queijos, vinhos, pães e nutelas (rá) italianos. Ops. Voltei à comida, mas é duro não falar de comida quando falamos de Itália. Também por isso, como disse no começo, ande. Ande bastante em Roma. Você não vai se arrepender. E vai compensar o que comer.  ; )


Só para fechar, o trailer de A Grande Beleza. Você pode até não ter curtido o filme, mas, na briga entres os filmes que mostram as belezas de Roma, ele certamente está no pódio.

 

Um comentário:

  1. Comprando pela internet dá pra se safar da fila no Vaticano! Esperei menos de cinco minutos para entrar (e só por isso fui, jamais encararia a fila grande de horas e horas).

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